“O que nós alcançamos internamente mudará a realidade exterior.”
(Plutarco)
(Plutarco)
A Especialização Hemisférica é um processo biológico que acompanha a nossa espécie desde os primórdios de sua origem evolutiva e é conseqüente ao enorme desenvolvimento de nossos hemisférios neocorticais cerebrais, não acompanhado de um igual crescimento das conexões neurais entre eles, o que leva a uma dificuldade de comunicação rápida e densa entre eles. A Especialização Hemisférica é um processo dinâmico e plástico, moldado pelas peculiaridades da cultura na qual crescemos e vivemos. Ela se caracteriza essencialmente pela lateralização das funções neocorticais principais, agregando de um lado (usualmente no neocórtex do hemisfério esquerdo) aquelas funções tidas como essenciais pela nossa cultura. E, ao mesmo tempo, segregando para o outro hemisfério aquelas funções tidas como “não essenciais” ou “pouco relevantes” e dificultando o acesso às mesmas.
Em nossa cultura ocidental pós-renascentista o leque de funções tidas como essenciais é aquele das ciências exatas: o raciocínio lógico, a verbalização correta, a matemática, a atenção à seqüência temporal de causas e efeitos. Por exclusão, foi criado assim (e seqüestado para o outro lado) um leque de funções tidas como “pouco relevantes”, dentre as quais estão a intuição, a afetividade, a percepção do espaço e das simultaneidades, a música e as artes em geral.
Derivam dessa assimetria a grande maioria de nossos problemas de relacionamento, seja com o nosso próprio interior, seja com as pessoas ao nosso redor, seja com o ambiente mais amplo, incluindo a própria ecologia do planeta.
Felizmente, talvez até para a nossa a nossa sobrevivência como espécie, a E.H. é um processo plástico, permitindo assim um reaprendizado de sua dinâmica, incluindo a acessibilidade ao nosso hemisfério direito, resultando assim numa mais equitativa e eficiente integração entre ambos.
Para tanto, Religar propõe um reiterado treino do processo de conexão inter-hemisférica. Busca, através de conjuntos de exercícios não verbais baseados em consignas e músicas adequadas (movimentos corporais, introspecções e interações entre os participantes do grupo), a TRANSIÇÃO ENTRE DOIS ESTADOS DE CONSCIÊNCIA, um mais presente, usual e racional (baseado, em essência, na atividade do hemisfério esquerdo), e outro mais raro, intuitivo e afetivo (alcançando e envolvendo a atividade do hemisfério direito), seguidos, ao final, por um retorno ao estado de consciência original.
A transição suave e harmoniosa entre esses estados (“curva de aula”) baseia-se também no acesso a duas de nossas potencialidades evolutivamente mais recentes e importantes: a nossa AFETIVIDADE e a nossa capacidade de TRANSCENDÊNCIA, ambas prioritariamente vinculadas aos processos sediados em nosso hemisfério direito.
Pode-se assim considerar Religar como um efetivo processo terapêutico de harmonização de nossas funções cerebrais superiores e, conseqüentemente, de nossas relações com o nosso mundo interior e exterior. A re-conexão harmoniosa entre os hemisférios neocorticais, leva a uma verdadeira re-harmonização de suas relações internas com todos os componentes neurais mais antigos desde o sistema límbico, ao hipotálamo e até ao tronco cerebral e à medula espinal. Com suas amplas, múltiplas e vitais ligações funcionais com todo o nosso organismo interno passa assim a ser um veículo de harmonia interna e de saúde biológica. Mas leva também (seja pela re-harmonização do conjunto neural límbico-hipotalâmico-mesencefálico, vinculado à organização e expressão de nossos padrões comportamentais básicos, seja pelo acesso mais pleno e harmonioso à nossa afetividade e a outras funções assentadas na circuitaria neuronal do hemisfério direito), a uma reformulação intensa, profunda e harmoniosa de nossas relações com o mundo externo, tanto humano, quanto biológico em toda a sua plenitude ou até ecológico e físico do planeta.
Permite-nos efetivamente a percepção do significado do Amor Maior e a escolha deste como orientador de nosso caminho de vida.
Werner R. Schmidek